Coronavírus e os profissionais de estética automotiva. Parte 1

Por:Patricia de Oliveira Kocerginsky

        Biomédica Microbiologista

Considerando que uma das formas de transmissão do coronavírus entre as pessoas é através de objetos ou superfícies contaminadas, os profissionais da estética automotiva entram diariamente em contato com superfícies internas do carro que podem conter o vírus. Estudos científicos mostram a sobrevida do coronavírus em diferentes superfícies automotivas como plástico, vidro, borracha, metais, tecido, etc. Sem falar que esses profissionais lidam com clientes, ministram cursos/workshops, realizam consultoria, sendo mais do que nunca fundamental, diante deste atual cenário de pandemia pelo coronavírus, entender os riscos e tomar os devidos cuidados individuais e coletivos. Vocês constatarão que “os corona” gostam muito de “pegar carona”! Boa leitura!

CENÁRIO ATUAL

No dia 26 de Fevereiro de 2020 foi confirmado o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no Brasil. O nome oficial do novo coronavírus é SARS-COV-2, coronavírus que causa a Síndrome Respiratória Aguda Severa 2. A doença causada por este agente viral foi denominada COVID-19 (CO=Corona; VI=vírus; D=doença) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Devido a sua alta transmissibilidade, rapidamente a epidemia pelo novo coronavírus ou SARS-COV-2 se transformou em uma Pandemia.

Só para fins informativos, enfrentamos uma epidemia quando há um aumento muito acima do esperado do número de casos de determinada doença e em várias regiões, podendo se limitar a várias regiões de um único país ou continente. Já a Pandemia, é quando o número de casos dessa mesma doença aumenta expressivamente disseminando-se para vários países e continentes. É o caso da COVID-19 que já atingiu mais de 118 países distribuídos ao redor do mundo.

Desde os primeiros casos oficiais na China em dezembro de 2019, o mundo ficou em alerta e, principalmente nos países atingidos, incluindo o Brasil, estão sendo adotadas medidas de contenção do vírus, com o intuito de combater a sua propagação. Até dia 20/03, foram confirmados 904 casos de COVID-19 no Brasil com 11 mortes, a maioria delas ocorridas no Estado de São Paulo. No mundo, já foram confirmados mais de 270.000 casos com pouco mais de 11.000 mortes, o que tem gerado mudança de hábitos individuais e senso de coletividade na luta contra esta infecção viral.

Antes de entrarmos na relação do novo coronavírus com a estética automotiva, vamos conhecer um pouco mais sobre as características destes vírus.

O QUE SÃO CORONAVÍRUS?

Os coronavírus (CoV) já existem e circulam no país e no mundo há décadas! Fazem parte de uma grande família viral conhecida desde meados dos anos 1960, responsáveis por infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Os coronavírus humanos são considerados a segunda principal causa de resfriado comum (após os rinovírus), segundo a Organização Pan-Americana de Saúde. Até as últimas décadas, raramente causavam doenças mais graves em humanos do que o resfriado comum. Porém, existem variedades mais agressivas destes vírus que podem causar pneumonia e síndromes agudas, como a SARS-Cov (coronavírus relacionado à Síndrome Respiratória Aguda Severa) descrita em 2002/2003, a MERS-Cov (coronavírus responsável pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio) identificada em 2012, e a SARS-Cov-2 (Síndrome Respiratória Aguda Severa 2 causada pelo novo coronavírus) em 2019. Ao todo, sete coronavírus humanos (HCov) já foram identificados:

– HCov-229E

– HCov-OC43

– HCov-NL63

– HCov-HJU1

– SARS-Cov

– MERS-Cov

– SARS-Cov2.

QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS DA COVID-19?

A maioria dos pacientes quando não são assintomáticos, desenvolvem sintomas parecidos com os do resfriado comum (Figura 1) como coriza, tosse, fadiga muscular e febre, de modo que muitas vezes não há como diferenciar COVID-19 do resfriado comum. No entanto, observações feitas em pacientes com diagnóstico confirmado de infecção pelo novo coronavírus e que evoluem para a forma grave da doença, apresentam como sintomas mais expressivos a febre intermitente (passa e retorna depois) e insuficiência respiratória gradativa, caracterizada pela Síndrome do desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Vale ressaltar que os indivíduos que geralmente evoluem para a forma grave da doença são os idosos, por frequentemente apresentarem outras comorbidades; pessoas com doenças crônicas como Diabetes e hipertensão ou aqueles que apresentam alguma debilidade imunológica.

DOENÇA
Fonte: https://infograficos.oglobo.globo.com/sociedade/2019-ncov-o-novo-coronavirus.html

COMO SE ADQUIRE A INFECÇÃO PELO NOVO CORONAVÍRUS?

Está ainda sob investigação a transmissão fecal-oral, já que estudos afirmam que pacientes com o novo coronavírus eliminam o vírus através das fezes, o que poderia contaminar água e alimentos. Outra forma de transmissão em estudo é via animal silvestre, tendo em vista que a origem da pandemia do COVID-19 foi em um mercado de Wuhan, na China, que vendia alimentos e animais vivos. Provavelmente morcegos – que são reservatórios naturais do vírus- podem ter infectado algum outro animal silvestre que era exposto no mercado, contaminando pessoas ali presentes. Já se levantaram suspeitas ainda não comprovadas contra peixes e cobras.

O que está definido até o momento é a transmissão entre pessoas, a qual se dá de 3 maneiras:

1) Através das gotículas de saliva que são eliminadas no ar quando a pessoa tosse, espirra ou fala

2) Por contato físico, quando essas gotículas com o vírus alcançam mucosas do olho, nariz e boca.

3) Por meio de contato com superfícies contaminadas (contágio indireto).

                O contágio indireto é determinado pela contaminação das mãos. Caso estas sejam levadas à boca, nariz ou olhos sem a devida higienização prévia, o indivíduo pode desenvolver a doença. Os profissionais da estética automotiva estão expostos ao vírus durante sua rotina de trabalho, seja atendendo clientes, ministrando/participando de cursos/workshops ou realizando os cuidados automotivos. É aí que entro na relação do novo coronavírus com a estética automotiva!

Alguns estudos científicos publicados em revistas internacionais já foram realizados com o objetivo de verificar o tempo de sobrevida/resistência de vários tipos de coronavírus em diferentes superfícies. O primeiro deles, publicado como Nota científica na Revista New England Journal of Medicine verificou a sobrevida do coronavírus em aerossóis e em quatro superfícies por sete dias sob temperaturas de 21°C e 23°C. A tabela abaixo mostra as superfícies testadas e o tempo de sobrevida do vírus em cada uma delas:

Para o experimento, os pesquisadores utilizaram uma amostra líquida contendo o novo coronavírus (SARS-COV2) e a colocaram em um aparelho nebulizador para produção dos aerossóis (gotículas microscópicas) em quantidade comparada àquela produzida por uma pessoa ao tossir ou espirrar. Verificaram que as partículas do vírus podem permanecer viáveis no ar por quase 3 horas, além de contaminar todas as superfícies próximas. Com relação às superfícies testadas, o plástico e o aço inoxidável dão mais estabilidade ao novo coronavírus e principalmente o primeiro está presente em grande quantidade no veículo, fazendo parte da realidade de profissionais da estética automotiva.  

O estudo não verificou a sobrevida do vírus em tecido, mas outros estudos com outros patógenos mostram que no geral, os vírus sobrevivem de 72 a 96 horas neste material. A porosidade do tecido facilita a deposição e retenção de gotículas de saliva, limitando a acessibilidade do sabão e da água e ampliando a sobrevida do vírus.

Outra pesquisa realizada por Kampf et al. (2020) em uma Universidade da Alemanha, baseada na revisão de 22 estudos anteriormente publicados com os velhos coronavírus (SARS E MERS), verificou que esses vírus podem sobreviver em superfície e objetos inanimados por aproximadamente uma semana.  Ou seja, se uma pessoa saudável entrar em contato direto com essa superfície nesse período, ela poderá ser infectada. Esta variação do tempo de sobrevida é devido ao tipo de coronavírus presente, à superfície em questão e às condições ambientais. Uma gotícula de saliva por exemplo contém água e proteínas da saliva. Uma gotícula de secreção respiratória tem muco, proteína e restos celulares. Todo esse material orgânico protege o vírus e aumenta a sobrevida dele no ambiente em dada superfície. Além desse material orgânico, a porosidade também interfere nesse tempo, como discutido anteriormente.

Esta pesquisa constatou que tempo médio de vida dos coronavírus em superfícies sob diferentes temperaturas (4°C, 20°C, 21°C, 22°C, 25°C e 30°C) variou entre 2 horas e nove dias (Tabela 2). Os vírus conseguem prosperar em vários materiais diferentes, incluindo aço, alumínio, madeira, papel, plástico, látex e vidro. Sendo assim, a pesquisa sugere que os coronavírus podem “pegar carona” em um objeto e sobreviver por cerca de uma semana. Além disso, a baixa temperatura e a alta umidade do ar aumentam ainda mais sua vida útil desses vírus, o que aumenta a probabilidade de infecção. Isto implica dizer que o pico desta infecção aqui no Brasil ainda está para acontecer, uma vez que estamos na transição do verão para o inverno.

Tabela 2. Tempo de sobrevida de coronavírus em diferentes superfícies Fonte: Kampf et al. (2020)

O estudo ainda observou que alguns coronavírus têm menos resistência a temperaturas mais altas como 30°C ou 40 °C.

Por tanto, cuidados devem ser tomados nos processos de detalhamento automotivo, tendo em vista que os profissionais lidam diariamente com muitos materiais que facilitam a permanência do novo coronavírus, além dos clientes que atendem, dos cursos que ministram/participam e da própria vestimenta utilizada durante o trabalho. Vale ressaltar que este novo vírus foi identificado recentemente e, por isso, ainda não há tratamento específico e nem vacinas disponíveis! Por tanto, da criança ao idoso, é necessário cautela e medidas preventivas colocadas em prática constantemente.

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Continue a Leitura na PARTE 2 da matéria sobre o Coronavírus e a Estética Automotiva.

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